(3) Mudanças Impostas pelo Governo Marchezan na educação Municipal de Porto Alegre
Sou professora da Rede Estadual em Canoas, ou seja, não trabalho na rede municipal de Porto Alegre. Mas o ataque desferido àquela rede de ensino não pode ser vista de forma separada do resto. Se no governo federal há a imposição de uma reforma no ensino médio; no estado do RS há uma reforma no ensino fundamental, redução de turmas (inchamento de turmas), enturmação, redução da hora atividade, não cumprimento da hora-atividade para educadores e educadoras de anos iniciais; no governo municipal de PoA faz parte deste projeto de crise na educação.
Como disse, não faço parte da rede municipal e por isso me basearei em quem faz:
Professora de Anos iniciais, pedagoga formada pela UFRGS:
"A rede municipal de Porto Alegre, para quem não sabe, atende a população mais carente da cidade, por estar localizada nas regiões mais periféricas. Sou oriunda da rede estadual e tenho exato um ano de magistério municipal.... Muitos colegas vêem a localização geográfica das escolas municipais como um elemento de demérito e alguns chegam a conclusão que mesmo com a remuneração superior ao estado "não vale a pena", pelos "riscos e incômodo". Pois posso dizer para vocês que no município pude ressignificar minha docência, não porque no Estado já não acreditasse que somente lutando é que poderia ser professora, mas sim porque a rede municipal conta com uma trajetória ainda viva de projeto educacional democrático e também porque conta com uma dignidade maior expressa na condição de trabalho e remuneração. Pois horas de trabalho e remuneração são sim condições fundamentais para a prática educacional de qualidade, não acredito em "aptidão natural" e sei que nossa profissão tem como parte de seu arcabouço teórico muito desse imaginário, quase como se ser professor fosse um "dom natural". Não o é, e estuda-se muito para que possa se alcançar um aprendizado significativo para milhares de estudantes da rede.
A mudança na rotina escolar proposta pelo exc. Prefeito é embasada em projetos já em curso em nosso país, um escola que mais se assemelhará a uma fábrica. Produção em massa, sem tempo para reflexão e projetos que construam a autonomia. Demanda-se tempo para transpor as barreiras impostas pela sociedade desigual que vivemos e que é expressa em muitos de nossos educandos! Demanda-se qualidade de vida para compreender o desafio diário que enfrenta uma escola que em muitas comunidade é o única braço do Estado, depois do braço armado sempre presente na vida de nossos estudantes, muitas vezes para aterrorizar e punir a pobreza do qual esta comunidade mesmo é vítima.
Para sair da posição de vítimas pela retirada cotidiana de direitos, para se enxergar enquanto sujeitos de direitos, não bastam cartilhas, não bastam as refeições diárias (ainda que muito importantes), é preciso abrir espaço para a aprendizagem, é preciso espaço para a construção da "contra-lógica". Ensinar estudantes da periferia, meninos e meninas, em sua maioria negras e negros que são sim portadores de conhecimentos e parte do mundo que assistem pela televisão demanda educadores com tempo para refletir essa contra-lógica, amorosidade para construir e paciência para resistir. A mudança anti-democrática nas escolas do município de Porto Alegre é parte de uma lógica de retiradas de direitos que está em curso em nosso país...
Sou professora da Rede Estadual em Canoas, ou seja, não trabalho na rede municipal de Porto Alegre. Mas o ataque desferido àquela rede de ensino não pode ser vista de forma separada do resto. Se no governo federal há a imposição de uma reforma no ensino médio; no estado do RS há uma reforma no ensino fundamental, redução de turmas (inchamento de turmas), enturmação, redução da hora atividade, não cumprimento da hora-atividade para educadores e educadoras de anos iniciais; no governo municipal de PoA faz parte deste projeto de crise na educação.
Como disse, não faço parte da rede municipal e por isso me basearei em quem faz:
Professora de Anos iniciais, pedagoga formada pela UFRGS:
"A rede municipal de Porto Alegre, para quem não sabe, atende a população mais carente da cidade, por estar localizada nas regiões mais periféricas. Sou oriunda da rede estadual e tenho exato um ano de magistério municipal.... Muitos colegas vêem a localização geográfica das escolas municipais como um elemento de demérito e alguns chegam a conclusão que mesmo com a remuneração superior ao estado "não vale a pena", pelos "riscos e incômodo". Pois posso dizer para vocês que no município pude ressignificar minha docência, não porque no Estado já não acreditasse que somente lutando é que poderia ser professora, mas sim porque a rede municipal conta com uma trajetória ainda viva de projeto educacional democrático e também porque conta com uma dignidade maior expressa na condição de trabalho e remuneração. Pois horas de trabalho e remuneração são sim condições fundamentais para a prática educacional de qualidade, não acredito em "aptidão natural" e sei que nossa profissão tem como parte de seu arcabouço teórico muito desse imaginário, quase como se ser professor fosse um "dom natural". Não o é, e estuda-se muito para que possa se alcançar um aprendizado significativo para milhares de estudantes da rede.
A mudança na rotina escolar proposta pelo exc. Prefeito é embasada em projetos já em curso em nosso país, um escola que mais se assemelhará a uma fábrica. Produção em massa, sem tempo para reflexão e projetos que construam a autonomia. Demanda-se tempo para transpor as barreiras impostas pela sociedade desigual que vivemos e que é expressa em muitos de nossos educandos! Demanda-se qualidade de vida para compreender o desafio diário que enfrenta uma escola que em muitas comunidade é o única braço do Estado, depois do braço armado sempre presente na vida de nossos estudantes, muitas vezes para aterrorizar e punir a pobreza do qual esta comunidade mesmo é vítima.
Para sair da posição de vítimas pela retirada cotidiana de direitos, para se enxergar enquanto sujeitos de direitos, não bastam cartilhas, não bastam as refeições diárias (ainda que muito importantes), é preciso abrir espaço para a aprendizagem, é preciso espaço para a construção da "contra-lógica". Ensinar estudantes da periferia, meninos e meninas, em sua maioria negras e negros que são sim portadores de conhecimentos e parte do mundo que assistem pela televisão demanda educadores com tempo para refletir essa contra-lógica, amorosidade para construir e paciência para resistir. A mudança anti-democrática nas escolas do município de Porto Alegre é parte de uma lógica de retiradas de direitos que está em curso em nosso país...
* Imagem criada por uma escola da rede municipal que explica as mudanças
Em resumo, mais uma vez somos nós os professores os responsabilizados - até porque serão professores e equipes diretivas que terão que responder pelos alunos que ficarão sozinhos por um grande período do tempo - por terem como argumento que "a reforma aumenta o tempo dos alunos com os professores" como se isso aumentasse a qualidade das aulas. Se não tiver estrutura, planejamento e respeito pela comunidade escolar, como que a educação terá qualidade?
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