Nunca gostei de falar em público. Minha timidez e minha insegurança sempre foi uma barreira gigantesca para que conseguisse expressar minhas opiniões. Mas a vida nem sempre faz com que os sintamos o tempo todo confortável. Sendo assim, um dia - há alguns anos - organizamos o 1º Encontro de Mulheres UFRGS na Faculdade de Direito. O encontro foi um sucesso e no primeiro dia haviam 300 pessoas presentes. Me foi dito que eu precisava falar pra todas estas pessoas. Não mediar mesa ou dar informes, mas fazer falas políticas. Quase morri, suei frio, gelei, mas fiz. E todos os anos depois fiz falas em passagens nas salas de aula enquanto movimento estudantil. Participei de inúmeras discussões sobre opressão e outras disputas politicas. Isto me deixou preparada para lidar com situações em sala de aula, isto fez com que minha atuação em sala de aula fosse modificada e, por último, fez com que fosse muito mais fácil as passagens escolas como comando de greve. Há uma frase do Paulo Freire que eu concordo muito que é "Ser professor e não lutar e uma contradição pedagógica".
Outra experiência incrível que pude e posso presenciar é o movimento de ocupação das escolas no estado. As alunas e os alunos demonstrando na prática que estão inconformados com a situação da educação e QUEREM estudar - apesar de muitos os acusarem de querem bagunça. Estar nas ocupações me faz refletir sobre o quanto o nosso sistema educacional falha com estes alunos. Afinal, na maior parte delas, vemos aqueles alunos que sempre faltam, que nunca entregam os trabalhos e que são arredios, tomando a frente e organizando as e os colegas. Disciplina é essencial para organizar o trabalho, concordo com isto. Mas quando ela é apenas imposta, as pessoas se rebelam; quando ela é construída coletivamente, ela não é só respeitada, como todos contribuem para isto e é esta a experiência que tenho das ocupações. Ver as alunas e os alunos organizando aulas, palestras, grupos de estudos sobre assuntos que eles sabem ser importantes, mas também que eles querem me faz pensar sobre como devemos ouvir os alunos e não só nos discursos, mas na prática. Tento entender aqueles colegas que são contra o movimento de ocupações - dar aula pra aluno crítico é mais difícil do que para aqueles que aceitam de maneira dogmática o que o professor fala - mas me entristece que não tenham percebido a riqueza deste momento e o quanto podemos aproveitar. Há inclusive a iniciativa de alguns pesquisadores de começar um estudo sobre a pedagogia das ocupações. Na última sexta-feira, 27/05, ocorreu um debate na FACED/UFRGS que infelizmente não pude comparecer. Por fim, concluo com uma faixa dos alunos da escola e que conclui o ensino fundamental (e que foi essencial na minha escolha de profissão)
"Não somos desocupados. Estamos ocupando o que é nosso." |